O papa Francisco deu mais um passo para agradar a comunidade LGBT mundial. O líder católico divulgou, nesta segunda-feira, 18, uma declaração doutrinária na qual será possível abençoar a união de pessoas do mesmo sexo. Isso é o que diz a declaração “Fiducia supplicans” sobre o significado pastoral das bênçãos, publicada pelo Dicastério para a Doutrina da Fé e aprovada pelo pontífice.

Apesar do comunicado, a Igreja ressalta que a benção está “fora de qualquer ritualização e imitação do matrimônio”.

Contudo, a partir de agora, diante do pedido de duas pessoas para serem abençoadas, os sacerdotes terão permissão para consentir, ainda que a condição de casal seja, como descreveu o Vaticano, “irregular”.

“Mas sem que esse gesto de proximidade pastoral contenha elementos minimamente semelhantes a um rito matrimonial”, ressaltou a declaração papal.

De acordo com o documento, a Igreja Católica poderá “acolher também aqueles que não vivem de acordo com as normas da doutrina moral cristã, mas pedem humildemente para serem abençoados”.

Havia 23 anos que o Santo Ofício não publicava uma declaração Fiducia supplicans, um documento de alto valor doutrinário. A última, “Dominus Jesus”, foi em 2000.

Este último Fiducia supplicans contém uma manifestação do cardeal Victor Fernandez, que explica que a declaração aprofunda o “significado pastoral das bênçãos”, permitindo que “sua compreensão clássica seja ampliada e enriquecida”, por meio de uma “reflexão teológica baseada na visão pastoral do Papa Francisco”.

Segundo Fernandez, esta é uma reflexão que “implica um verdadeiro desenvolvimento em relação ao que foi dito sobre as bênçãos” até agora, chegando a incluir a possibilidade “de abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo”.

Ele explica, entretanto, que o ato não irá validar oficialmente o status do relacionamento ou modificar o ensino perene da Igreja sobre o casamento.

“Declarando inadmissíveis ritos e orações que possam criar confusão entre o que é constitutivo do matrimônio e o que o contradiz, a fim de evitar reconhecer de alguma forma como matrimônio algo que não é”, disse o cardeal.

Ele reiterou que, de acordo com a doutrina católica perene, “somente as relações sexuais dentro do casamento entre um homem e uma mulher são consideradas lícitas”.

Um grande capítulo do documento analisa o significado das várias bênçãos. O texto lembra que, “de um ponto de vista estritamente litúrgico”, a bênção exige que o que é abençoado esteja “em conformidade com a vontade de Deus expressa nos ensinamentos da Igreja”.

“Quando, com um rito litúrgico específico, se invoca uma bênção sobre certas relações humanas, é necessário que o que é abençoado possa corresponder aos desígnios de Deus inscritos na Criação; portanto, a Igreja não tem o poder de conferir uma bênção litúrgica a casais irregulares ou do mesmo sexo”, afirma a declaração.

Não há necessidade de exigir ‘perfeição moral

Contudo, ela diz que “é preciso evitar o risco de reduzir o significado das bênçãos apenas a esse ponto de vista, exigindo para uma simples bênção as mesmas condições morais que são exigidas para a recepção dos sacramentos”.

“Quem pede uma bênção, expressa um pedido de ajuda de Deus, uma súplica por uma vida melhor. Esse pedido deve ser acolhido e valorizado fora de uma estrutura litúrgica, quando se encontra em uma esfera de maior espontaneidade e liberdade”, afirma a declaração.

Segundo a Igreja, “as bênçãos devem ser valorizadas como atos de devoção e para conferi-las, portanto, não há necessidade de exigir perfeição moral prévia como pré-condição”.

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