Um fato curioso chamou a atenção no começo dessa semana, moradores da Vila Almirante, que moram no local há mais de 50 anos, foram pego de surpresas quando foram recebidos por um oficial de justiça e vários policiais do Choque, para notificar a comunidade sobre uma ação de reintegração de posse, movida pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).
A estatal alega ser a legítima proprietária do terreno onde 20 imóveis foram construídos, numa área de aproximadamente 1,6 mil metros quadrados (m²). A vila está situada entre a avenida Almirante Tamandaré e a rua dos Pacajus e é cortada por um muro do complexo operacional dos Correios, que funciona ao lado.
O problema é que moradores alegam já viver por lá há mais de 80 anos, como a aposentada Hélia Rocha Araújo, de 83 anos, ela conta que a vila se formou há quase 100 anos. O pai dela, que era servidor do extinto Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis (DNPVN), foi o primeiro morador da área.
De acordo com a aposentada, ele construiu a residência da família — que até hoje é a mesma — após receber autorização do chefe regional do DNPVN. “Quando eu nasci, só existia a casa do meu pai aqui. Depois, outros funcionários ganharam liberação para fazer suas casas, e assim se formou a vila”, recorda.
Para muitos moradores, a permanência no local atravessa gerações. É o caso do ourives José de Araújo Júnior, 63, que mora na Vila Almirante desde a infância. “Tudo começou com meu avô. Depois veio meu pai, eu, meus filhos e agora até os meus netos vivem aqui.” A aposentada Maria do Socorro Alves (áudio abaixo), 74, que mora na vila há mais de 50 anos, foi testemunha de grandes transformações no espaço.
“Quando eu vim morar aqui não tinha muro, não tinha Correios, era só mato. Tinha uma linha de trem, cajueiros, os meninos brincavam no terreiro… Aí, de repente, eles [os Correios] vêm e querem ser donos de tudo”, lamenta, com os olhos lacrimejando. “Criei meus filhos e netos todos aqui. Quero viver até o fim da minha vida nessa casa”, completa.
E o correios não pede somente a reintegração de posse, eles também pedem à Justiça que os moradores sejam condenados a pagar uma indenização equivalente ao aluguel de todo o período de ocupação ilegal da área.
Fonte: O Povo