A falta de repúdio do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ordem de prisão contra o ex-candidato de oposição na Venezuela, Edmundo Gonzalez, e a suspensão do X pelo Supremo Tribunal Federal (STF) vêm gerando questionamentos no exterior sobre o apetite do Brasil para continuar sendo uma democracia. Um indício dessa tendência foi um editorial publicado pelo jornal americano Washington Post na quarta-feira (4). O jornal, que tem um histórico de críticas ao bilionário Elon Musk, escreveu que as medidas tomadas por Moraes contra Musk – de suspender o X e impor uma multa de R$ 50 mil para qualquer brasileiro que acessá-lo – “não só parecem, como são autoritárias”.
“Musk tem o direito de dizer o que pensa e de ter o devido processo legal, não obstante a posição demagógica do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva em contrário”, escreveu o jornal criticando uma fala de Lula de que o mundo não é obrigado a tolerar Musk só porque ele é rico.
“Esta resposta reflete mal a vocação democrática do Senhor da Silva, que foi de fato legitimamente eleito em 2022. Todo o episódio está se transformando em uma advertência para as democracias que acreditam que a resposta à expressão online de forma problemática é suprimi-la”, opinou o Washington Post.
Quando iniciou seu atual mandato em 2023, Lula atraiu críticas de países da América do Sul ao receber o líder Nicolás Maduro com honras e dizer que a ditadura na Venezuela era apenas uma narrativa. Em seguida, Lula aderiu à política antiamericana da China e da Rússia e apoiou formalmente um plano de paz chinês para a guerra na Ucrânia que tem um claro viés pró-Rússia. Essas ações começaram a provocar um afastamento político gradual do Brasil em relação às democracias liberais do Ocidente.
Para o consultor político Wilson Pedroso, a censura ao X no Brasil é vista por alguns segmentos dentro e fora do país como uma tentativa de controle da informação e potencial censura em uma nação considerada democrática. Esse cenário, aliado à situação na Venezuela, traz reflexos internacionais iminentes.
“A falta de manifestação do governo brasileiro sobre o caso de Gonzalez pode ser interpretada como uma relutância em defender princípios democráticos no contexto internacional. Esses dois eventos [bloqueio do X e eleições na Venezuela] revelam um posicionamento: dentro do Brasil o governo se engaja em ações que limitam a liberdade de comunicação, externamente opta por não tomar partido em questões de liberdade e direitos humanos”, avaliou.
“Em um cenário de crescente polarização política na América Latina, esses eventos demonstram as dificuldades dos governos em manter uma postura coerente entre o que praticam internamente e o que defendem externamente”, disse.