A agenda preliminar de Lula prevê que na próxima quinta-feira (15) ele virá ao Paraná para a “retomada da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados” de Araucária, região de Curitiba. A Fafen pertence à Petrobras e está “hibernando” desde 2020. Segundo a petroleira explicou à época, a matéria-prima (um resíduo da produção de asfalto) era mais cara que o produto final (amônia e ureia). A Petrobras tentava vender a fábrica desde 2017 e chegou a negociar com um grupo russo, mas sem sucesso. Não houve outros interessados. Ano passado, com a mudança de governo, a estatal mudou de ideia e achou por bem retomar a produção.
Um modo de atuação que, na recente definição da “The Economist”, faz o Brasil “caminhar no lado selvagem financeiro”. A revista britânica se refere ao desleixo do presidente com as contas públicas e a seu “flerte renovado com um grande Estado”.
A história dessa unidade pode ser tomada como um exemplo – trivial e imperfeito, mas vá lá – da aplicação do conceito de “eterno retorno” no Brasil.
A Fafen foi inaugurada em 1982, no regime militar, e era parte da divisão de fertilizantes da Petrobras. Entrou para o Programa Nacional de Desestatização (PND) no governo Collor e foi vendida para a Bunge em 1993, já na gestão Itamar. Em 2010, foi repassada para a Vale.
Três anos depois, uma reviravolta: a Fafen retornou aos domínios do Estado. A Petrobras recomprou a unidade por US$ 234 milhões, prometendo investir US$ 144 milhões até 2017.
O país era governado por Dilma Rousseff. A então presidente da estatal, Graça Foster, celebrou a retomada da unidade em uma tarde ensolarada do início de junho.
“Esta fábrica volta às mãos da Petrobras, de onde, com todo respeito à Vale, nunca deveria ter saído, porque tem toda uma sinergia com o nosso sistema”, disse Graça em discurso aos funcionários.
Em seguida, enquanto ela caminhava para uma sala onde falaria com jornalistas, alguém pôs “Take a walk on the wild side”, de Lou Reed, nas caixas de som. Algo como “dê uma volta pelo lado selvagem”.
Apesar do entusiasmo, da tal sinergia e dos milhões de dólares investidos, a Fafen – também chamada de Araucária Nitrogenados S/A (Ansa) – não se tornou um negócio rentável. Segundo um relatório do BTG Pactual, de 2015 a 2021 a Ansa acumulou prejuízo líquido de US$ 320 milhões. E queimou cerca de US$ 400 milhões de caixa.
“Embora ainda acreditemos que a aprovação para a reativação da planta tenha seguido todos os processos internos de governança, garantindo a viabilidade econômica de qualquer projeto, é claro que o setor de fertilizantes historicamente representou desafios para a empresa”, anotaram os analistas do banco.
Em 2022, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia e pôs em risco o fornecimento de fertilizantes ao país, muita gente questionou a redução da produção nacional ao longo das últimas décadas. Hoje mais de 80% do adubo usado pelo agronegócio brasileiro vem do exterior. Motivo: é mais barato importar do que produzir aqui.
Sem fazer referência à Petrobras, a então ministra da Agricultura, Teresa Cristina, disse que o país se equivocou na estratégia, e que era preciso tratar do assunto “como segurança nacional e segurança alimentar”.
É um modo de ver a questão. Quando se fala em soberania, eventualmente surge o argumento de que o país pode assumir prejuízos em nome de um bem maior.