Um defensor público do Rio Grande do Norte atacou as mulheres que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro. Em um áudio divulgado em um grupo de WhatsApp, Serjano Valle disse que elas, se sofrerem abuso, com “uma dedada” nas partes íntimas, não podem reclamar.

O áudio ofensivo gerou repúdio nas redes sociais e pedidos de sindicância contra o defensor. A OAB e a Defensoria do RN vão apurar a conduta do servidor.

No trecho do áudio, compartilhado em redes sociais, o defensor público Serjano Valle afirmou: “Graças a Deus, temos Alexandre de Moraes, danando a caneta nessa canalha, nesses vagabundos (…) A mulher que vota em Bolsonaro se levar uma dedada no c* e outra na bu** na rua não pode reclamar”.

O defensor afirma ser insuspeito para fazer a declaração porque a mulher dele, Serjano, votou em Bolsonaro em 2018 e, em 2022, por não suportar Lula, votou em branco. “Eu digo isso, me sinto à vontade, minha mulher, o primeiro ano, 2018, votou em Bolsonaro, o ano passado ela votou em branco, porque ela não aguenta votar em Lula. Mas ela foi um pouquinho digna e disse que respeitava as nossas duas filhas e não votou em Bolsonaro.”

Senador pelo Rio Grande do Norte, Rogério Marinho (PL) apresentou duas representações para que o defensor público seja investigado. As representações foram feitas ao defensor público-geral do RN, Clístenes Mikael de Lima Gadelha, e à procuradora-geral de Justiça do Rio Grande do Norte, Elaine Cardoso de Matos Novais Teixeira.

No Twitter, o senador disse que o defensor, com o áudio, “atentou contra a dignidade das mulheres e de suas opiniões eleitorais”.

Defensor público será investigado por fala contra eleitoras de Bolsonaro

A Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Norte (OAB-RN) também repudiou a manifestação do defensor. “A violência sexual e de gênero é inaceitável em qualquer circunstância, e as palavras têm um poder imenso para incitar comportamentos e agressões, que vão contra a dignidade da mulher”, afirmou a entidade.

A OAB do RN informou também que “vai analisar se cabe a aplicação de sanção, que pode resultar até na suspensão do direito do autor das mensagens de atuar na advocacia”.

A Defensoria do RN, ainda no domingo 25, quando o áudio do defensor viralizou nas redes sociais, emitiu nota na qual não condenou nem repudiou a declaração do membro da instituição.

“Os atos praticados, no âmbito da vida privada, por membros da instituição não refletem os posicionamentos institucionais, tampouco diminuem a importância da atuação da Defensoria Pública para a defesa dos direitos das pessoas financeiramente hipossuficientes e dos grupos sociais vulneráveis, sendo equivocada qualquer ilação que tenha por objetivo atingir negativamente uma instituição que tem como compromisso a busca de uma justiça social efetiva”, afirmou a nota da Defensoria.

Na segunda-feira 26, informou que abriu um procedimento para apurar os fatos e que as penalidades para esse tipo de conduta estão previstas na Lei Complementar Estadual 122/94. “Todas as circunstâncias inerentes ao caso no âmbito do processo administrativo” serão analisadas, disse a Defensoria.

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