As manifestações realizadas em Brasília em 8 de janeiro do ano passado não configuraram em golpe contra um governo. É o que afirmou nesta sexta-feira, 5, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. “Não havia um líder com quem negociar”, disse Múcio Monteiro, ao destacar que se dirigiu ao epicentro das manifestações na tarde de 8 de janeiro. “Eram senhoras, crianças, rapazes, moças… Como se fosse um grande piquenique, um arrastão em direção à Praça dos Três Poderes.”

Em entrevista ao jornal O Globo, o integrante do governo Lula reforçou que as Forças Armadas — ou seja, Exército, Marinha e Força Aérea — não queriam aplicar um golpe militar no país.

“Podia ser até que algumas pessoas da instituição quisessem, mas as Forças Armadas não queriam um golpe”, afirmou Múcio Monteiro. “É a história de um jogador indisciplinado em uma equipe de futebol: ele sai, a equipe continua. No final, me parecia que havia vontades, mas ninguém materializava porque não havia uma liderança.”

Na mesma entrevista, o ministro da Defesa, pasta à qual as Forças Armadas estão subordinas, reforçou o perfil de quem estava na Praça dos Três Poderes, em Brasília, na ocasião. Para parte da esquerda e de alguns setores da imprensa, os atos configuraram em “tentativa de golpe”.

O ministro também disse que, antes das manifestações do 8 de janeiro, um decreto de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) poderia ser publicado pelo Poder Executivo para garantir efetivo das Forças Militares nas ruas, principalmente em Brasília na ocasião. De acordo com ele, Lula, no entanto, vetou essa possibilidade.

“Era uma forma de o Exército ir para a rua e conter”, afirmou Múcio Monteiro.” Tínhamos 1,5 mil homens à disposição. Mas o presidente disse: ‘GLO não’. Havia um grupo que achava que, se houvesse GLO, os militares aproveitariam para materializar o golpe.”

O ministro da Defesa também foi questionado como anda a relação de Lula com os comandantes das Forças Armadas. Múcio Monteiro enfatizou essa questão. Conforme ele, a parceria entre o petista e os militares está “muito boa”.

“O presidente tem uma relação direta, telefona para cada um dos comandantes”, disse o ministro. “Minha tarefa foi essa, pacificar as relações.”

Múcio Monteiro deixou em aberto a possibilidade de deixar o governo Lula. Por fim, ele também falou sobre, em determinadas ocasiões, acabar como alvo de críticas feitas por integrantes do PT, justamente o partido do presidente da República.

“Tem muitos que criticam, outros elogiam”, disse. “Tudo tem seu tempo. Se nós estamos procurando aproximar, por que vamos mexer? Temos que reconstruir o clima de confiança, para que as pessoas não sintam que estão sendo punidas. Precisamos primeiro criar este clima e depois fazer o que algumas pessoas desejam.”

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