Desde a publicação da lei que turbinou os salários dos juízes e dos desembargadores de Goiás, o Tribunal de Justiça do Estado (TJ-GO) já recebeu um montante acumulado de R$ 9,4 milhões — quase R$ 8 milhões líquidos.

Os magistrados contemplados integram o Órgão Especial da Corte de Goiás, que, em janeiro, por unanimidade, aprovou o rascunho da norma que foi enviada à Assembleia e resultou no aumento exponencial do holerite dos integrantes do TJ-GO.

Nos últimos três meses, a Corte repassou R$ 7,9 milhões, em valores líquidos, para abastecer os contracheques dos 21 desembargadores que participaram da votação da minuta de lei remetida ao Legislativo do Estado.

O valor corresponde ao total de rendimentos dos magistrados entre abril e junho — R$ 9,4 milhões, subtraídos descontos de Imposto de Renda, Previdência e retenção pelo teto que somaram no período R$ 1,5 milhão.

Do total dos rendimentos dos magistrados, só R$ 2,3 milhões (25%) correspondem à verba relativa aos subsídios de R$ 37,5 mil mensais. Os outros 75% correspondem a “direitos pessoais” (R$ 305 mil), “indenizações” (R$ 2,6 milhões) e “direitos eventuais” (R$ 4,1 milhões).

“Correção de distorções”

O TJ-GO estudou, em processo sigiloso, a classificação como verba “indenizatória” devida a servidores que exercem “atividade extraordinária”. A análise se deu depois de o governo do Estado aprovar uma norma de mesmo teor, beneficiando os servidores do Executivo de Goiás.

Nessa linha, a diretoria-geral da Corte rascunhou a minuta de projeto de lei para “busca a paridade/extensão de direitos” — recebimento de verba “indenizatória” como “contraprestação pelo exercício de cargos comissionados e de funções de natureza administrativa ou de representação, de caráter temporário ou eventual”.

Ao encaminhar o texto à Assembleia, a Corte alertou sobre a “necessidade de fazer valer direito isonômico” aos integrantes do Judiciário.

O Tribunal sustenta a necessidade de “corrigir distorções de ordem discriminatória”. Argumenta ainda que foi estudado o “impacto orçamentário” da lei que turbinou os salários dos desembargadores.

De acordo com a cúpula da Corte, havia “disponibilidade orçamentária e financeira já para 2023”. O teor do estudo não foi encaminhado à Casa Legislativa.

Em sessão ordinária no dia 25 de janeiro, o rascunho do projeto de lei foi aprovado pelo Órgão Especial do TJ de Goiás.

Quem são os desembargadores que receberam a verba milionária?

Votaram os desembargadores: Carlos Alberto França (presidente), Beatriz Figueiredo Franco, Leobino Valente Chaves, Gilberto Marques Filho, João Waldeck Felix de Sousa, Carlos Escher, Kisleu Dias Maciel Filho, Zacarias Neves Coelho, Alan Sebastião de Sena Conceição, José Paganucci Júnior, Carmecy Rosa Maria Alves de Oliveira, Nicomedes Domingos Borges, Sandra Regina Teodoro Reis, Guilherme Gutemberg Isac Pinto, José Carlos de Oliveira, Delintro Belo de Almeida Filho, Marcus da Costa Ferreira, Anderson Máximo de Holanda, Maurício Porfírio Rosa, Jeová Sardinha de Moraes e Sebastião Luiz Fleury.

Desse grupo de magistrados, Carmecy Oliveira (R$ 508,4 mil) é quem mais recebeu desde abril. Outro desembargador que recebeu mais de meio milhão no período é Marcus da Costa Ferreira (R$ 501,7 mil).

Nove outros magistrados ganharam entre R$ 405 mil e R$ 479 mil, entre abril e junho. O presidente da Corte, desembargador Carlos Alberto França, compõe a lista.

A lei que turbinou os salários dos magistrados goianos foi contestada pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, no Supremo Tribunal Federal. O chefe do Ministério Público Federal pediu à Corte máxima que suspenda, liminarmente, os pagamentos. O caso está sob análise do ministro André Mendonça.

No centro do processo está o expediente que classifica como verba “indenizatória” valores devidos a servidores que exercem “atividade extraordinária”. Normalmente, esses montantes estariam sujeitos ao abate teto — corte no pagamento de funcionários públicos quando o valor do holerite ultrapassa o limite do funcionalismo público, que é o contracheque dos ministros do STF.

Leis sancionadas pelo governo de Goiás preveem a exclusão desses valores da régua do teto e acabaram turbinando o holerite de servidores.

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