Investidores estrangeiros continuam aumentando sua posição comprada em dólar, apostando que o real ficará mais fraco. Após o número bater máxima histórica, por volta dos US$ 70 bilhões, no final da última semana essa posição já somava US$ 75,6 bilhões, de acordo com dados da Bloomberg. No começo dessa semana o dolar chegou por volta das 12h15, o dólar comercial tinha nova sessão de valorização frente ao real, subindo 0,79%, para R$ 5,42 – na máxima da sessão e do ano.
O que justifica o aumento dessas posições, segundo especialistas, é o fato de que os investidores internacionais enxergarem o real se desvalorizando. Inicialmente, essa visão foi motivada principalmente pela perspectiva de que os juros nos Estados Unidos ficariam mais altos, mas hoje há também um forte impulso da deterioração política e fiscal brasileira.
Dólar: estrangeiro aposta contra o real
“Os juros nos Estados Unidos ainda estão muito atrativos. E isso cria um fluxo financeiro para lá, com investidores optando por investir na renda fixa norte-americana”, explica Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.
Nos últimos meses, os rendimentos pagos pelos treasuries yields vinham em alta, com dados macroeconômicos reforçando a visão de que o Federal Reserve terá de ser mais duro na condução de sua política monetária. Com isso, investidores estrangeiros geralmente acabam mantendo o capital nos Estados Unidos, o que fortalece o dólar.
“Os juros americanos são considerados a taxa livre de risco do mundo. Se a gente comparar, os juros nos Estados Unidos estão na casa dos 5,5% enquanto os juros no Brasil estão em 10,5%. É um spread de 5 pontos percentuais, não tão grande, que diminui a atratividade dos títulos brasileiros”, menciona Rafael Perretti, economista e trader da Clear Corretora.
Em postagem no Twitter, o CEO e CIO da Armor Capital Gestão de Investimentos, Alfredo Menezes, destaca que, há mais de dez anos, o estrangeiro não tinha posição vendida em real e comprada em dólar dessa maneira:
Fiscal enfraquece real
Mas, nos últimos dias, mesmo com os rendimentos dos títulos públicos dos EUA recuando após as divulgações de um payroll e de uma inflação nos EUA, medida pelo CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) mais fracas do que o esperado, os estrangeiros continuaram, contudo, aumentando suas posições compradas em dólar. E isso se dá, agora, pelo cenário local.
Nos Estados Unidos, com os últimos dados macroeconômicos sinalizando uma desaceleração da inflação, há a perspectiva de que os juros reais, medido pela diferença entre rendimentos pagos e a variação dos preços, avance.
No Brasil, por outro lado, o IPCA de maio veio mais forte e o último Boletim Focus trouxe que o mercado está aumentando sua projeção de inflação em 2024. Isso diminui o “juro real” dos papéis locais.
“Vem aumentando a preocupação com o fiscal, principalmente pelas derrotas políticas do Fernando Haddad [ministro da Fazenda]. Temos também a expectativa de inflação subindo e a própria desvalorização da moeda fecha o espaço para o Copom [Comitê de Política Monetária] cortar juros nas suas próximas reuniões”, menciona. Harada.
E o juro real brasileiro ainda está menor na comparação com o americano em um momento no qual o Governo Federal enfrenta dificuldades para compor a sua receita e em entregar as metas fiscais estipuladas anteriormente – já tendo, inclusive, alterado por exemplo a promessa de um superávit no próximo ano). Semana passada, o Senado devolveu a MP das compensações, que aumentaria o faturamento da União.
Usualmente, o mercado quando enxerga maiores riscos — no caso o risco de o Governo Federal não conseguir arcar com todas suas despesas — pede mais retornos. Se o juro real brasileiro está caindo, porém, significa que os rendimentos dos títulos públicos estão compensando menos.
“O governo está gastando muito e tendo maior dificuldade do lado da arrecadação. Isso também causa uma desancoragem da expectativa inflacionária, aumentando o risco fiscal. Então as pessoas optam por se proteger um pouco mais. E para se proteger a primeira medida é comprar dólar”, expõe Perretti, da Clear.
Por fim, ainda há a visão de que o o Banco Central, com o fim do mandatado do atual presidente Roberto Campos Neto, fiquei mais “heterodoxo”, baixando juros na canetada. Isso, claramente, diminuiria ainda mais a força do real.