Um suposto espião russo está preso no Brasil. Ele é acusado de tentar se infiltrar no Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia. Sergey Vladimirovich Cherkasov chegou a viver nos Estados Unidos, onde dizia ser brasileiro e usava identidade falsa, sob o nome de Victor Muller.

O caso ganhou maior repercussão na quinta-feira (27), após o ministro da Justiça, Flávio Dino, publicar em uma rede social que “o parecer técnico do Ministério da Justiça acerca de dois pedidos de extradição está embasado em Tratados e na Lei 13.445/2017. No momento, o citado cidadão permanecerá preso no Brasil”.

De acordo com informações do analista de internacional Lourival Sant’Anna, isso significa que o Brasil decidiu extraditar Cherkasov de volta para a Rússia, que supostamente o contratou para cometer os crimes dos quais é acusado. Mas só depois de concluído um inquérito sobre ele no Brasil.

O outro pedido de extradição citado por Dino foi feito pelos Estados Unidos. Porém, a solicitação da Rússia foi enviado primeiro, e, como ele é cidadão russo, a prioridade fica para seu país de origem.

A decisão de extraditar para a Rússia foi homologada em 17 de março, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Entretanto, uma lei de 2017 prevê que uma pessoa não pode ser extraditada enquanto é investigada ou cumpre pena no Brasil.

A extradição, entretanto, é paradoxal, porque os crimes dos quais Cherkasov é acusado resultariam supostamente de ordens do serviço militar de espionagem da Rússia. Assim, haveria a possibilidade de ele não ser punido no país de origem.

Já no caso dos EUA, o governo norte-americano pode ter interesse na extradição de Sergey para possíveis trocas com o governo russo, como, por exemplo, do jornalista Evan Gershkovich, correspondente do The Wall Street Journal, preso em março em Moscou e acusado de espionagem.

Identidade no Brasil 

Sergey Vladimirovich Cherkasov usava o nome “Victor Muller”, tendo estudado na prestigiada Escola de Estudos Internacionais Avançados (SAIS na sigla em inglês) da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, um programa de pós-graduação de elite que é escolhido por militares, jovens diplomatas e, de acordo com fontes da CNN, futuros espiões.

O suposto espião dizia que era brasileiro, uma resposta que se revelou parte de um elaborado disfarce que ele passou anos construindo.

Ele teria a incumbência de espionar investigações sobre crimes de guerra em ações militares russas na Ucrânia e outros lugares, dizem as fontes da CNN.

O FBI já investigava Cherkasov na época, e as autoridades holandesas foram alertadas. Como ele se apresentava como cidadão brasileiro, foi extraditado para o Brasil em abril do ano passado. Ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, foi preso, e está numa penitenciária em Brasília.

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