Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a guerra civil e conflitos no Iêmen, apresentado ao Conselho de Segurança da entidade no fim de 2024, revelou que 73 pistolas Taurus, fabricadas no Brasil e originalmente comercializadas para outros países de forma legal, chegaram às mãos de traficantes de armas que atuam em parceria ou estão diretamente associados aos terroristas houthis do Iêmen. A fabricante brasileira não é investigada, não é suspeita de participar da venda aos terroristas e disse que tão logo soube do caso passou a colaborar com as apurações.
Os houthis são um grupo que domina a capital, Sanaã, e regiões do leste do país árabe. Eles são financiados pelo Irã e ligados a outros terroristas, como a Al-Qaeda e o Hezbollah.
O relatório também alerta para um carregamento de cocaína, localizado em navio brasileiro que estava transportando açúcar, apreendido no ano passado no Iêmen. Os receptadores também eram terroristas, mas o caso não tem conexão direta com o tráfico de armas brasileiras no Iêmen identificado pela ONU.
O documento aponta ainda que armas produzidas em outros países também estão em posse dos rebeldes. O comércio de armas com o Iêmen está proibido há mais de uma década devido a sanções impostas pelas Nações Unidas, em razão do conflito entre o antigo governo do país e os houthis.
O levantamento sobre o desvio das armas brasileiras foi feito com o apoio da Taurus, que disse ainda repudiar a utilização de seus produtos para fins ilegais. A empresa e o governo brasileiro não são legalmente responsáveis pelo destino das pistolas após a venda.
O relatório da ONU é ilustrado com fotos das armas que estavam sendo anunciadas para venda em postagens nas redes sociais, em sites especializados na região, lojas físicas e até em uma feira militar na capital do Iêmen.
À Gazeta do Povo, a Taurus afirmou que cumpre a legislação brasileira e as normas internacionais aplicáveis para comercialização de armas para exportação, salientando que não tem qualquer tipo de negócios com o Iêmen.
“A Taurus é uma empresa estratégica de defesa e tem uma rigorosa política de compliance, de modo que suas transações são realizadas com países que possuem relações diplomáticas e comerciais com o Brasil e sobre os quais não pesem qualquer restrição ou sanção internacional que impeçam a comercialização de armamento. A empresa não mantém qualquer ordem de negócios com o Iêmen ou com países em conflito”, relata.
A fabricante também esclareceu que os contratos de exportação de armas são realizados observando todos os procedimentos legais aplicáveis e obtidas todas as autorizações dos órgãos reguladores brasileiros, assim como licenças necessárias para sua efetivação, o que inclui o Certificado de Usuário Final (End User Certificate).
“Esse documento, além de explicitar o destinatário final e exclusivo da mercadoria, especifica que os equipamentos objeto da exportação não serão reexportados para terceiros”, descreveu.
“A Taurus colabora plenamente com qualquer investigação sobre possíveis condutas criminosas, com o compromisso de combater o desvio de armas e o comércio ilegal, sendo importante ressaltar que o Brasil é signatário do Tratado sobre o Comércio de Armas que regula o tema”, completou.
Assim que soube das investigações em curso no Iêmen, a empresa disse que forneceu ao painel de especialistas do Conselho de Segurança da ONU, que monitora o conflito naquele país, todas as informações disponíveis sobre as armas de fogo anunciadas pela internet. Agora cabe a esse e a outros órgãos competentes fazer as investigações necessárias sobre eventual desvio ilegal e conduta criminosa.