Victor Müller Ferreira, nascido em Niterói (RJ) em 4 de abril de 1989, se mudou para os EUA em 2018 para participar de um programa de pós-graduação e depois retornou ao país. Um relatório da polícia federal americana (o Federal Bureau of Investigation – FBI) aponta, entretanto, que Ferreira é, na verdade, o espião russo Sergey Vladimirovich Cherkasov, nascido em Kaliningrado.

Cherkasov teria chegado ao Brasil em 2012 como agente ilegal do Serviço de Inteligêcia Russo. Aqui, se estabeleceu com a identidade falsa de Ferreira e se apresentava como filho de uma brasileira com um português e criado por uma tia na Argentina. Detido em abril de 2022 depois de ser deportado pela imigração holandesa — ele estava a caminho de um estágio no Tribunal Internacional de Haia —, ele está preso no Brasil desde então.

O suspeito é investigado por espionagem, lavagem de dinheiro e corrupção, e já foi condenado a 15 anos de prisão em regime fechado por uso de passaporte falso. Cherkasov é apenas um dos russos suspeitos de espionagem que utilizam passaportes falsos de brasileiros. Em outubro de 2022, por exemplo, o coronel russo Mikhail Mikushin, que se passava por um pesquisador brasileiro de nome José Assis Giammaria, foi preso em uma universidade da Noruega.

Agora, o jornal britânico The Guardian revelou que outro possível espião russo que dizia ser brasileiro. Identificado como Gerhard Daniel Campos Wittich, ele dizia ser filho de austríacos. Disfarçado de empresário de tecnologia, morou no Rio de Janeiro por cinco anos e sua empresa, a 3D Rio Impressão, até teve contratos com o governo federal.

Um indivíduo que trabalhou com ele demonstrou surpresa com a informação. Segundo ele, o empresário “entendia muito do assunto”. Ele conta que manteve contato com o russo quando ele já estava fora do país. “Acho que ele trazia [impressoras 3D] da China e revendia aqui. Ele entendia muito de impressão 3D. A gente não sabia nada pessoal dele”, explica.

Autoridades brasileiras se pronunciam

O Ministério da Defesa diz que os contratos que aparecem no Portal da Transparência foram firmados pelos comandos da Marinha e do Exército. Em nota, a Marinha do Brasil conta que adquiriu serviços ocasionais relativos a suprimentos para impressão na empresa 3D Rio durante o enfrentamento à covid-19. Segundo a corporação, os produtos adquiridos não comprometeram o sigilo e a segurança das operações da Marinha e não atestam qualquer tipo de relacionamento com Wittich.

O comando do Exército e o Ministério da Cultura não responderam à solicitação de informação feita pela TV Globo. Já a Polícia Federal diz que não comenta eventuais investigações em andamento. O Itamaraty e o consulado americano não quiseram se pronunciar, e o consulado russo foi procurado pela equipe, mas não respondeu.

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