A Polícia Federal está à frente da investigação que revelou um esquema de venda de sentenças envolvendo assessores de ministros do STJ. O caso teve origem no assassinato do advogado Roberto Zampieri, ocorrido em dezembro de 2023 em Cuiabá, cujas mensagens no celular foram cruciais para a descoberta. O conteúdo do celular de Zampieri chegou ao conhecimento do CNJ e da Polícia Federal, em Brasília, revelando mensagens que conectavam servidores de ministros do STJ a um esquema de propinas. Entre os envolvidos, estão assessores de confiança dos ministros Isabel Gallotti, Og Fernandes, Moura Ribeiro e Nancy Andrighi. As mensagens mostram que esses servidores vendiam decisões judiciais em troca de pagamentos que variavam de 50 mil a 100 mil reais.

Zampieri foi alvejado com 12 tiros ao sair de seu escritório, e a apuração subsequente revelou que seu celular continha informações que ligavam servidores de ministros do STJ à comercialização de decisões judiciais. O crime, meticulosamente planejado, trouxe à tona uma rede de corrupção envolvendo advogados, lobistas e servidores públicos, conforme relata a jornalista Laryssa Borges em reportagem da Revista Veja, publicada nesta segunda-feira (07/10/2024).

Zampieri foi morto por um pistoleiro contratado por 40 mil reais, que passou meses preparando a execução. O criminoso usou disfarces e uma arma adaptada para evitar suspeitas, mas um erro acabou revelando o esquema criminoso. O celular da vítima, encontrado ao lado de seu corpo, continha provas cruciais que levaram à descoberta de um sistema de extorsão e venda de sentenças judiciais.

Em uma das conversas encontradas no celular, o lobista Andreson Oliveira cobrou Zampieri pelo pagamento de propinas relacionadas à compra de uma fazenda no Mato Grosso, cuja dívida envolvia um dos maiores bancos do país. Oliveira chegou a celebrar o recebimento de um rascunho da decisão judicial, afirmando que o documento final estava idêntico ao rascunho: “até a vírgula é igual”, escreveu o lobista.

Conexão com outro assassinato

O caso tomou proporções ainda maiores com o assassinato do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso, Renato Nery, em julho de 2024. Nery havia denunciado a participação de Zampieri no esquema de venda de sentenças, e sua morte levantou a hipótese de que ambos os assassinatos estão interligados. A Polícia Federal e o Ministério Público do Mato Grosso investigam se há uma conexão direta entre os dois crimes e o esquema de corrupção revelado.

Encobertamento e tentativas de bloqueio

Desde o assassinato de Zampieri, várias tentativas foram feitas para impedir que o conteúdo de seu celular fosse utilizado nas investigações. Juízes locais, políticos e até familiares da vítima atuaram nos bastidores para bloquear o acesso às mensagens, chegando a recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar dos esforços, grande parte do material foi liberada, e o caso continua sob investigação.

A Polícia Federal e o Ministério Público ainda não concluíram as investigações, mas as suspeitas de que a execução de Zampieri esteja diretamente ligada ao esquema de venda de sentenças no STJ são fortes. A cada nova descoberta, o escândalo aumenta em dimensão, envolvendo mais pessoas e colocando em xeque a integridade de instituições judiciais no país.

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