A energia elétrica está mais cara neste mês de setembro, com um aumento de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Com isso, os setores da economia já projetam um aumento de preço de produtos repassados ao consumidor final. “Ataca a cadeia toda, desde o produtor até o supermercado. Já vamos fazer as contas dos custos com a nova bandeira. E quem vai sofrer é o consumidor que ou paga mais, ou leva menos produto”, afirma o presidente do Sindilaticínios, José Antunes Mota
Ele reforça que o aumento da energia elétrica “impacta toda a cadeia dos laticínios”: “como trabalhamos com produtos perecíveis, o aumento será repassado de imediato para o consumidor”.
A produção de alimentos também deve ser impactada com essa nova bandeira de energia. Segundo o analista de mercado das Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa), Odálio Girão, o impacto maior deve ser no setor de grãos, por conta do uso contínuo de energia na produção.
Ele cita como exemplos a soja, o milho, o arroz e o feijão, que são produtos que precisam de irrigação. “Esses produtos vão sentir o impacto quase de imediato, já no final deste mês”.
“Mercado absorve muito bem (a produção) no segundo semestre e vamos ter uma boa produção, mas os custos operacionais devem afetar diretamente o produtor e, consequentemente, o consumidor”, considera.
Na fruticultura, o impacto deve se dar mais no processo de embalamento. Girão comenta que o setor de Packing House (do inglês, casa de empacotamento) sendo o local onde o produto recebe o beneficiamento, classificação, embalagem, tem grande influência e precisa de energia elétrica. “E quanto mais esse recurso for exigido, mais custo deverá ser repassado ao consumidor final”, completa Odálio Girão.
Anna Fercher, head de customer success e insights da Neogrid, pontua que a alta na conta de luz tem impacto sobretudo na soja, base alimentar de boa parte da pecuária brasileira, como bovinos, suínos e aves. Com isso, a tendência é de encarecimento, sobretudo a partir de outubro, nas proteínas animais que compõem a alimentação dos brasileiros.
A reação em cadeia, pelo menos inicialmente, não deve impactar no bolso do consumidor na hora de fazer as compras. Anna Fercher acredita que o abastecimento dos estoques deve passar por um processo de encarecimento gradual, quando eles passarem por reposições ao longo das semanas. Assim como a pecuária, a alta na conta de energia deve ser sentida em demais produtos em outubro.
“A princípio, esse impacto não tende a ser tão alto porque os canais já estão abastecidos. O impacto maior provavelmente virá no próximo trimestre, que é quando as redes vão estar reabastecendo as gôndolas. A tendência é de que sim, não só em alimentos, mas em produtos de limpeza e proteínas, o preço se eleve até chegar numa estabilidade”, avalia.