O governo Lula vem obtendo consistentemente números piores que os do Bolsonaro em quantidade de queimadas em florestas e em questões sanitárias relacionadas a indígenas. O mau desempenho não é acompanhado, contudo, da intensa reação de ONGs, políticos e celebridades nacionais e internacionais militantes dessas causas que marcou a gestão anterior. Especialmente nos anos de 2020 e 2021, epítetos como “genocida” e “Nero da Amazônia” foram usados contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e Ricardo Salles, seu ministro do Meio Ambiente, por diversas figuras públicas, ambientalistas e celebridades internacionais que criticavam de forma veemente suas ações para a Amazônia e o Pantanal e suas políticas voltadas a indígenas.

Artistas como Caetano Veloso, Letícia Sabatella, Leonardo DiCaprio, Wagner Moura e Mark Ruffalo assinaram manifestos, participaram de protestos e campanhas e fizeram diversas postagens críticas às políticas do governo que supostamente estariam marcando um divisor de águas negativo para a Amazônia e os direitos dos povos indígenas.

No começo do governo Lula, a promessa foi um tratamento de choque para sanar o problema. Até o momento, o desempenho é parecido e, em muitos aspectos, pior.

Em relação à questão indígena, como mostrou recentemente a Gazeta do Povo, o governo tem ocultado dados sobre os óbitos de yanomamis, mas informações já divulgadas de 2023 revelam que Lula e seus ministros não conseguiram aplacar a histórica tendência de crescimento nas mortes, frequentemente atribuída ao aumento do garimpo, dos casos de malária e da desnutrição. Mais do que isso, o atual Executivo teve números piores que os do anterior. Em 2023, houve um aumento de 5,8% nas mortes em relação a 2022 na terra yanomami.

Quanto às queimadas, os números também não têm sido favoráveis para Lula. De janeiro a maio de 2024, por exemplo, o Brasil teve 23.506 queimadas, o maior número de sua história para esse período do ano, superando com folga o pior ano sob o governo Bolsonaro, 2019, quando ocorreram 17.703 queimadas de janeiro a maio, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O ano ainda não chegou à metade, mas a quantidade de queimadas no Pantanal brasileiro de 2024 já é, em números absolutos, a segunda maior dos últimos 15 anos. O índice só está atrás, até o momento, da maior alta da história, ocorrida em 2020, mas a tendência é que os números deste ano superem o recorde. O mês de junho, ainda longe de terminar, já é o pior de toda a série histórica registrada.

Em 2023, embora os números não tenham sido tão altos quanto os de 2024, tampouco foram muito melhores que os de anos anteriores. Na Amazônia, por exemplo, o ano passado teve mais queimadas que os anos de 2021 e 2022.

A principal causa que tem sido propalada pela esquerda para o caso do Pantanal – a seca – não é falsa, e já foi apontada pela Gazeta do Povo em outras ocasiões. Trata-se de um problema sazonal, que em alguns anos impõe mais desafios do que em outros, como no caso de 2020 e no deste ano. Os personagens implacáveis com Bolsonaro quatro anos atrás, contudo, têm se mantido calados em 2024.

Para o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec-BH e da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a militância política e o enviesamento impedem uma defesa honesta e coerente das pautas sobre meio ambiente e a questão indígena. “Há um processo de cooptação política que faz com que eles evitem fazer denúncias contra o governo do qual eles fazem parte”, observa.

Na segunda-feira, a atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pediu a Lula mais recursos para enfrentar o problema nesta segunda-feira (17). Historicamente vinculada a essas pautas, Marina foi a figura escolhida no início do governo por Lula capaz de entregar de forma imediata uma aura de proteção ao meio ambiente que atendia a certo público – mas até isso tende a estar com os dias contados diante da persistência dos resultados negativos.

“Marina Silva, que, ao que tudo indica, se resignou ao papel secundário de satélite do caudilho vermelho, vê seu prestígio desidratar velozmente, a não ser em bolsões lacradores incorrigíveis de ONGs mercenárias e na cabecinha vazia de alguns astros e estrelas do mundo do entretenimento”, afirma o cientista político Paulo Kramer.

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