O Ceará tem, segundo estimativa do Serviço Geológico do Brasil (SGB), mais de 175 mil pessoas vivendo em áreas classificadas como de risco alto ou muito alto, sujeitas a possíveis incidentes de natureza geológica. Semelhantes aos deslizamentos recorrentes no Alto dos Marianos na época de chuvas. Ou em outras situações adversas como enxurradas, quedas ou rolamento de blocos, corrida de detritos, erosões e inundações. São problemas identificados tanto em regiões serranas, em faixas litorâneas ou no Sertão.
O dado populacional indicado pelo SGB é baseado em um mapeamento de cenários feito em 71 municípios cearenses pelo órgão federal — a antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM). Os trabalhos, chamados “Setorização de Áreas de Risco Geológico”, foram publicados pelo SGB entre os anos de 2012 e 2023.
Segundo a geóloga Juliana Gonçalves, pesquisadora em geociências do SGB-Ceará e que participou de várias das cartografias realizadas no Estado, o documento auxilia as gestões municipais na prevenção e monitoramento de desastres, em planos de contingência e no ordenamento territorial. “O SGB não tem poder de interditar, só de orientar”. O risco é considerado alto quando há uma ocorrência significativa em cinco anos. E muito alto se acontecerem pelo menos três registros de incidentes no mesmo período.
Dez dos 71 municípios cearenses foram revisitados pelos pesquisadores do SGB e tiveram as informações de risco geológico atualizadas. Um deles foi Maranguape, com dados divulgados em outubro de 2014 e em janeiro de 2023 (levantamentos feitos em 2014 e 2022). O município tinha 7 setores apontados na primeira pesquisa de campo, passou a ter 14 com riscos alto ou muito alto no relatório mais recente. À época havia quase 20 residências e perto de 70 moradores a menos que na atualidade.
“Essas áreas de risco são muito dinâmicas. Esse relatório deve estar sempre sendo atualizado. Por isso que a gente sempre orienta o município a fazer esse trabalho contínuo, não ficar esperando pelo SGB. Inclusive uma das áreas que a gente foca é na capacitação das defesas civis”, afirma a pesquisadora. O mapeamento é feito a partir da solicitação formal do município.
O chefe de Departamento de Gestão Territorial do SGB, Diogo Rodrigues da Silva, explica que a atuação do SGB visa dar apoio aos municípios e estados que não possuem capacidade técnica para realizar o mapeamento de suas áreas de risco geológico alto e muito alto. O SGB mapeia e entrega os relatórios ao gestor municipal e aos órgãos de Defesa Civil nas esferas municipal, estadual e federal.
Curiosamente, para um Estado situado no semiárido nordestino, de chuvas menos incidentes, o risco geológico mais propenso a acontecer no território cearense, com liderança ampla, são as inundações.
Foram identificadas 286 áreas sujeitas ao problema, que correspondem a 66% dos tipos de risco. Os deslizamentos aparecem em segundo lugar, com 13% (55 áreas), seguidos de 8% para quedas ou rolamento de blocos de pedras (35).
“Como o Ceará fica muitos anos num período de estiagem, a população infelizmente parece que esquece daquele cenário, aí começa a ocupar áreas que não deveriam ser ocupadas, que são as margens dos rios. Quando entra um outro período chuvoso intenso é quando essas casas são atingidas”, explica a geóloga.
Fonte: O Povo