O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, reforçou sua posição crítica ao uso de combustíveis fósseis e à exploração de petróleo na área da Amazônia, classificando de “negacionismo” medidas adotadas no sentido oposto. Na abertura da Cúpula da Amazônia, em Belém, nesta terça-feira, 8, Petro destacou que “as forças progressistas deveriam estar sintonizadas com a ciência”. A posição colombiana ocorre em meio à controvérsia brasileira sobre a exploração na foz do Rio Amazonas.
“As direitas têm essa fonte de escape muito fácil através do negacionismo, de negar a ciência. Para os progressistas, é muito difícil, então isso gera outros tipos de negacionismos que é: vamos postergar as decisões”, disse Petro. “‘Ah, mas porque o aparato econômico, o desenvolvimento nacional’, ou seja, tudo baseado no negacionismo, e que vai postergando as decisões essenciais para a vida”, acrescentou.
Entre os países amazônicos, a Colômbia é o que mais se destaca na preservação da floresta. Após anos de aumento do desmatamento no governo do ex-presidente Iván Duque, a taxa de perda de cobertura florestal vem caindo. A pecuária e o plantio ilegal de coca são dois vetores que continuam a forçar a resistência do bioma.
Diferentemente do Brasil, no entanto, que passou a discutir a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas, a Colômbia discute um plano progressivo para pôr fim à exploração desse tipo na floresta. Em Belém, a expectativa é de que se alie ao Brasil e também assuma o compromisso de desmatamento zero até 2030.
“Estamos às margens da extinção da vida e é nesta década que devemos tomar decisões. Somos nós, os políticos, que devemos tomar essas decisões. Nós e talvez durante esse tão rápido período presidencial que temos. O que estamos fazendo além dos discursos como esses?”, acrescentou o presidente colombiano em Belém.
Petro acrescentou que os interesses econômicos estão na raiz das posições políticas sobre a crise climática, o que prejudica o sucesso de encontros como a Cúpula do Clima. “A política não consegue se destacar dos interesses econômicos que derivam do capital fóssil. Por isso, a ciência se desespera (…), vendo na política uma espécie de muro silencioso que não pode atuar. Por isso, as COPs fracassam.”
Para Petro, as medidas precisam ir além do desmatamento zero, como pregado por Lula. O brasileiro quer atingir a meta até 2030. A Colômbia, aponta o presidente colombiano, “já experimentou isso antes com o presidente anterior, ele já se comprometeu em 2020 ao desmatamento zero”. “O desmatamento desse ano comparado com o anterior reduziu em 70% no nosso país, é um certo êxito.”
Petro propôs ainda a formação de um tribunal de justiça ambiental multilateral para julgar crimes contra a Floresta Amazônica. Ele sugeriu a formulação de um tratado “militar e judicial” conjunto para fortalecer a cooperação na região, inclusive em áreas como combate ao desmatamento. Defendeu também uma reforma do sistema financeiro global, que reduza a dependência da emissão de carbono. “O que o planeta está nos dizendo é que agora é o momento de mudar o sistema econômico – e muito, em profundidade”, disse.