O Ministério Público Federal (MPF) ingressou com uma nova ação civil pública nesta segunda-feira, 9, para responsabilizar, na esfera cível, 37 ex-agentes do regime militar pela morte do líder comunista e terrorista Carlos Marighella.

A medida pede, entre outras penalidades, a perda de aposentadoria dos envolvidos, a devolução de recursos gastos pela União com indenizações concedidas a familiares de Marighella e o pagamento de compensações por danos morais coletivos causados à sociedade pela repressão política. No caso de réus já falecidos, os herdeiros deverão arcar com as reparações.

O MPF requer que o Estado de São Paulo e a União, igualmente réus, realizem um ato público de reparação à memória de Marighella e incluam o episódio em espaços de memória sobre a ditadura.

Diversos ex-agentes citados já são réus em outras duas ações públicas movidas pelo MPF, em março e agosto, referentes à prisão ilegal, tortura, morte e desaparecimento de 34 militantes durante o regime alimentar. Alguns também já foram denunciados numa ação protocolada em maio, que pede a condenação penal por homicídio qualificado e falsidade ideológica.

Um dos envolvidos nas duas denúncias é o ex-delegado Sérgio Paranhos Fleury, que comandou a operação. O médico legista Abeylard de Queiroz Orsini, coautor do laudo necroscópio, teria ocultado as reais circunstâncias da morte do terrorista Marighella, em alinhamento com a versão oficial de que ele teria resistido à prisão, também é réu na nova requisição.

A falsificação de laudos era uma prática recorrente no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, instituição que cooperou intensamente com os órgãos de repressão ao longo de toda a ditadura, ajudando a encobrir crimes e a isentar os agentes de culpa.

A procuradora da República e autora da ação do MPF, Ana Letícia Absy, ressaltou que a Lei da Anistia, criada para proteger os agentes do regime, não invalida a necessidade de responsabilização pelos crimes cometidos.

“A lei foi criada apenas para privilegiar e beneficiar os que se encontravam no poder, buscando exatamente atingir o escopo ainda persistente: não haver a punição dos crimes ou ressarcimento dos atos praticados pelos agentes estatais, quando estes saíssem do poder. E até a presente data, infelizmente, está plenamente atingindo seus objetivos”, disse a procuradora.

Marighella, que liderava a Aliança Libertadora Nacional (ALN), foi morto em São Paulo em uma emboscada organizada pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em 4 de novembro de 1969. Ele foi executado desarmado, apesar da possibilidade de ser preso. Ele era considerado “inimigo público número 1” dos ditadores e qualificado como “chefe do terrorismo no Brasil” por Fleury.

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