O governo de Javier Milei acusou no último domingo (30) a administração de Luis Arce de fazer uma “denúncia falsa de golpe de Estado” na última quarta-feira (26), quando militares ocuparam a Praça Murillo, em frente ao palácio presidencial boliviano, com blindados, e chegaram a entrar na sede do governo.

Em comunicado, a presidência argentina disse que “repudia a denúncia falsa de golpe de Estado realizada pelo governo da Bolívia”, que afirma ter sido “confirmada como fraudulenta”.

“Graças aos relatórios de inteligência, o Governo nacional manteve a calma e a serenidade diante dos episódios denunciados. O relato era pouco convincente e os argumentos não encaixavam no contexto sócio-político do país latino-americano”, diz o texto publicado pela Casa Rosada.

O texto ainda acusa o partido governante na Bolívia, o Movimento ao Socialismo (MAS) de controlar o Legislativo, o Judiciário, o Executivo e as Forças Armadas do país.

Na última quarta-feira, militares ocuparam a praça localizada diante do Palácio Quemado, na capital La Paz. Um carro blindado do Exército chegou a avançar contra uma das portas da sede da presidência boliviana e militares, inclusive o general que comandava o levante, Juan José Zúñiga, entraram no local.

O governo de Luis Arce denunciou a tentativa de golpe e substituiu todos os comandantes das Forças Armadas, inclusive Zúñiga, que tinha sido destituído do cargo no dia anterior.

O general acabou preso e, antes de ser levado pelas autoridades, insinuou que a tentativa de golpe tinha sido combinada com Arce, que teria dito a ele que precisava de alguma estratégia para aumentar sua popularidade. Zúñiga foi acusado de terrorismo e levante armado, e foi condenado a seis meses de prisão preventiva.

Evo Morales, ex-aliado e atual rival de Arce, apesar de na quarta-feira ter denunciado a “gestação de um golpe de Estado” devido ao “movimento do pessoal das Forças Armadas e tanques na Praça Murillo”, escreveu no domingo que “o presidente Luis Arce enganou e mentiu ao povo boliviano e para o mundo”.

“É lamentável que seja usada uma questão tão sensível como a denúncia de um golpe. Diante desta realidade, devo pedir desculpas para a comunidade internacional pelo alarme gerado e agradecer a solidariedade com nosso país”, escreveu Evo, que também pediu “uma investigação completa e independente” sobre o episódio.

O presidente boliviano respondeu dizendo que Evo não deveria ficar “ao lado do fascismo que nega o que aconteceu”. “Os responsáveis que tentaram tomar o poder pelas armas estão sendo processados e julgados, como aconteceu com os golpistas de 2019”, escreveu Arce.

A Argentina, por sua vez, após afirmar que a denúncia de Arce teria sido “falsa”, disse que “faz tempo que a democracia boliviana está em perigo”. “Não por um golpe militar, mas porque historicamente os governos socialistas derivam em ditaduras”, diz o comunicado.

A Casa Rosada também denuncia haver mais de 200 “presos políticos” no país, incluindo Jeanine Áñez, que assumiu interinamente a presidência após a renúncia de Evo Morales e do ex-governador de Santa Cruz, Luis Fernando Camacho.

O governo Milei somente havia se manifestado sobre o episódio na Bolívia por meio de sua chanceler Diana Mondino, que no dia dos episódios em La Paz, sem mencionar o país sul-americano ou seu atual presidente, escreveu: “Os governos, sejam bons ou sejam maus, goste deles ou não, são mudados somente nas urnas. Não são mudados com violentos golpes de Estado. A democracia não se negocia”.

 

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