Em audiência pública na Câmara Federal da Comissão Parlamentar de Inquérito do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), ouve, nesta terça-feira, 30, dois ex-integrantes do movimento. Nelcilene Reis e Ivan Xavier foram convidados para prestar esclarecimentos no colegiado. O casal fez parte do MST por três anos, entre 2016 e 2019, em uma invasão localizada em Brasília.
“Saímos do movimento, pois não aceitávamos a maneira como éramos tratados”, explicou Nelcilene durante a CPI do MST. “Éramos massa de manobra do movimento. Eu trabalhava de graça na parte financeira do mercadinho do MST, das 8 horas da manhã até às 17 horas.”
Segundo a ex-integrante, todo o dinheiro arrecadado no comércio era recolhido pelas lideranças locais. “O valor não era pouco”, explicou. “Os líderes do movimento passavam também em nosso ‘barraco’ para pedir dinheiro ou coisas, como comida. Uma vez, me pediram carne, mas eu só tinha frango.”
Nelcilene também falou pelo marido — que preferiu ficar calado. Conforme a ex-integrante do MST, era proibido deixar música alta tocando até determinado horário. Contudo, uma vez, ela cometeu esse equívoco e ameaçaram derrubar o “barraco” do casal.
A mulher chegou a ser encurralada no local onde morava por líderes do MST para que saísse da propriedade invadida, mas conseguiu ficar — mesmo que contra a vontade dos coordenadores.
Ao lado do marido, Nelcilene chamou a polícia para não ser expulsa da invasão. Na ocasião, os líderes foram expulsos do local. “Se a polícia não tivesse chegado, eu e meu marido estaríamos mortos. Tenho certeza. Nós éramos o alvo.”
No local, atualmente, o casal lidera uma associação dos produtores rurais. Agora eles têm CNPJ e os moradores contrataram um advogado para auxiliar nas questões judiciais. No entanto, nenhum deles tem titulo de propriedade ainda.
Mercadinho do MST com comida vencida
Durante a audiência pública na CPI, Nelcilene ainda revelou que o valor dos alimentos comercializados no “mercadinho do MST” era alto em relação às condições financeiras dos invasores que moravam no local. Além disso, contou que já encontrou alimentos vencidos no comércio,
“Cheguei a ver comida vencida”, afirmou. “Nós não poderíamos ter comércios além do que o próprio movimento tinha. Até criei um comércio com meu marido, mas fomos impedidos de continuar.”