Victor Muller Ferreira criou uma típica história de um estudante brasileiro que enfrentou dificuldades para chegar aos Estados Unidos e ser aceito em uma universidade do país. Como qualquer pessoa, ele realizava o sonho ao entrar para a graduação da Universidade Johns Hopkins, em Washington, em 2018.
O plano parecia perfeito, mas uma investigação das autoridades americanas descobriu a verdadeira história por trás do suposto estudante brasileiro. Victor Muller, na verdade, é Sergei Cherkasov, um operador de inteligência russo nascido em Kaliningrado.
O espião russo passou quase uma década construindo o personagem de Ferreira. Sua “equipe” era um círculo restrito de operadores russos acionados subitamente para manter um espião disfarçado infiltrado na capital americana.
Usando o acesso que obteve durante seus dois anos em Washington, Cherkasov produziu relatórios para seus chefes no serviço de inteligência militar da Rússia. De acordo com o FBI, o espião levantou informações sobre o governo de Joe Biden, principalmente sobre a reação das autoridades da invasão da Ucrânia.
O personagem
A criação do personagem de Victor Ferreira começou sobre camadas de documentos fraudulentos. Uma segunda via de uma certidão de nascimento com o nome de Ferreira foi emitida propositalmente em 2009, um ano antes de Cherkasov entrar no Brasil, de acordo com registros judiciais brasileiros.
Em seguida, apareceu uma carteira de motorista com o nome de Ferreira, mas a foto era de outra pessoa. O rastro de documentos sugere que o caminho de Cherkasov foi aberto anteriormente por operadores e agentes russos já em campo no Brasil.
O serviço de inteligência da Rússia explorou vulnerabilidades nos sistemas brasileiros de imigração e registros cartoriais, ao mesmo tempo que se valeu de ajuda interna.
Depois de estabelecer sua base, Cherkasov passou a coletar documentos adicionais para comprovar residência sob a identidade de Ferreira, incluindo CPF, uma nova carteira de motorista, com uma foto que corresponde à sua aparência, e um passaporte brasileiro.
Durante esses anos iniciais no Brasil, Cherkasov arrumou emprego em uma agência de viagens que, suspeita o FBI, seria gerida por um operador russo.
Fonte: Revista Oeste