O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, conhecida como Ponte de Estreito, sobre o Rio Tocantins na divisa com o Maranhão, neste domingo (22), é o que se costuma descrever com o clichê “uma tragédia anunciada”. Não faltaram avisos de que as condições estruturais da ponte eram deploráveis. O superintendente do Dnit do Tocantins é Renan Bezerra de Melo, ele foi acusado de corrupção, quando em 2017 a Polícia Federal (PF) na Operação Ápia, que investigava fraudes em licitações e em contratos de obras com suspeitas de desvios de mais de 200 milhões de reais do BNDES. Na época ele ocupava o cargo de superintendente na Agência de Transportes, Obras e Infraestrutura do Tocantis.

Em 2020, o juiz federal do caso decidiu dar baixa no processo no âmbito criminal e enviá-lo para a Justiça Eleitoral, por entender que o dinheiro supostamente desviado serviu para financiar ilegalmente campanhas eleitorais. O caso está no Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins e Renan Bezerra de Melo, o atual superintendente do Dnit do Tocantins, segue sendo um dos réus.

Melo foi nomeado pelo governo Lula para o cargo de superintendente do Dnit do Tocantins em 2023. Segundo a imprensa local, ele teria sido indicado para a função pelo deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos-TO). Apesar de ser de um partido que integra aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, Ayres pertence à base aliada do governo. Costuma postar orgulhoso fotos ao lado de Lula em seus perfis nas redes sociais.

O ministro dos Transportes, Renan Filho, e parlamentares da região apareceram para falar dos esforços de resgate e da promessa de reconstruir rapidamente a ponte. Mas onde estavam todos eles antes, quando os moradores denunciavam as condições precárias da ponte? Também não há ninguém falando de apurar a responsabilidade por essa tragédia anunciada.

A pergunta pode começar a ser feita ao próprio ministro dos Transportes e aos gestores que cuidam da conservação das rodovias federais. A responsabilidade é, acima de tudo, do governo federal e, mais especificamente, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que é dividido em superintendências com a missão de cuidar dos trechos das estradas sob as competências regionais.

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