Em pouco mais de cinco meses de 2024, Fortaleza atingiu o maior número de assaltos dentro de ônibus desde 2019. Até o dia 10 de junho, foram 235 registros, mais do que o total de todos os meses em cada um dos últimos quatro anos. Para se ter ideia, apenas em janeiro deste ano o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Ceará (Sindiônibus) registrou 71 casos quando, em todo o ano passado, foram 101.
Ainda de acordo com os dados do Sindiônibus, a média mensal de roubos nos transportes públicos deste ano está em 39,17, taxa que supera a média mensal de 2019, que ficou em 34,92. As cifras de assaltos em ônibus por mês nos anos anteriores foram: 2020 (16), 2021 (13,5), 2022 (19,08) e 2023 (8,45). Em números absolutos, considerando o ano inteiro, os registros são: 2019 (419), 2020 (176), 2021 (162), 2022 (229) e 2023 (101).
Maryvane Teles, de 55 anos, foi assaltada em fevereiro deste ano na linha 015 Conjunto Ceará/ Antônio Bezerra, e teve seu celular levado durante a ação. Desde então, tem sentido receio de usar o transporte público. “Quando eu pego o ônibus, tiro o celular e os documentos da bolsa, deixo meus objetos espalhados pelo corpo”.
Além da necessidade de esconder seus pertences, Maryvane também relata uma constante estado de alerta e sensação de vigilância. “Os assaltantes chegaram pulando a catraca e anunciando o assalto. Quando alguém sobe no ônibus, eu já fico analisando as feições e pensando se pode ser um suspeito”. Maryvane diz que essa preocupação é consequência do susto do ocorrido em que ela e outros passageiros foram rendidos em um ônibus.
Lóren Souza, 22, estudante da Universidade Federal do Ceará (UFC), foi assaltada duas vezes na linha 660 Palmeiras/Centro, enquanto se deslocava da instituição pública para casa. A primeira ocorrência foi registrada em outubro de 2022, o segundo assalto aconteceu em março de 2023.
No primeiro roubo que Lóren sofreu no ônibus, nenhum objeto da universitária foi subtraído, pois os criminosos levaram os celulares que estavam visíveis. Já o segundo, revela Lóren, foi mais violento. “Eles mostraram uma faca e tomaram minha mochila, que tinha dentro meu caderno, um livro que tinha acabado de comprar e meu planner. Não levaram meu celular porque estava escondido na roupa”. A jovem, que já tentou mudar seu trajeto, conta que ficou seis meses sem pegar ônibus, com receio de novos assaltos. “Quando entrava no ônibus, sentia um desconforto, tremedeira e não conseguia sentar. Meu pai tinha que desviar o caminho do trabalho para me deixar na universidade”, relata.
SSPDS
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS) destaca o Programa Segurança no Ponto, instituído em março deste ano, que tem como objetivo reduzir roubos e outros crimes nas paradas de ônibus de Fortaleza. O programa consiste no reforço policial nos períodos de maior movimentação nesses espaços públicos com o emprego de ciclopatrulhamento, moto patrulhamento e policiamento em viaturas.
De acordo com a SSPDS, os locais definidos para receber o reforço foram definidos de acordo com as estatísticas apresentadas pela Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp).
Além disso, a pasta também afirmou que realiza outro trabalho desenvolvido para coibir os crimes em transportes coletivos é a Operação Passageiro Seguro, que consiste em intensificar as ações ostensivas de abordagens a ônibus e microônibus a partir das análises de dados criminais, que apontam dias, horários e locais, onde são registrados crimes em transportes públicos.
Assaltos a ônibus em Fortaleza 2019–2024
- 2019 – 419
- 2020 – 176
- 2021 – 162
- 2022 – 229
- 2023 – 101
- 2024 – 235 (até 10 de junho)
Fonte: O Povo