Os homicídios seguem em alta em 2024, na comparação com 2023. Conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS), março do ano corrente teve um aumento de 22,4% em mortes violentas, no Estado, em relação a março do ano passado.

Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) – que englobam homicídios, feminicídios, latrocínios (roubos seguidos de morte) e lesões corporais seguidas de morte – foram registrados no Ceará, em março último. Já em igual período de 2023, foram 227 mortes violentas.

O aumento de 22,4% na comparação de um mês com igual período do ano anterior é o maior crescimento do índice desde dezembro de 2020, quando houve um aumento de 55,6%. Naquele mês, foram registrados 319 CVLIs, enquanto dezembro de 2019 teve 205 crimes.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social respondeu que “mantém seus esforços direcionados a reduzir os indicadores de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) em todo o território cearense. Para tanto, é realizado um alinhamento entre o trabalho ostensivo, investigativo e de inteligência”.

Segundo a Pasta, “direcionados por estudos da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp), o gestor da SSPDS, Samuel Elânio, participou de encontros nos últimos dias com representantes da Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) e Polícia Militar do Ceará (PMCE), na Região Metropolitana de Fortaleza e em municípios do interior. Em pauta, a ampliação do reforço de segurança nessas regiões”.

Um dos episódios com mortes violentas registrado em março deste ano foi uma chacina com quatro vítimas, no Município de Cascavel, no dia 2 daquele mês. Quatro homens – que não tiveram a identidade revelada pela SSPDS – foram assassinados a tiros. Esta foi a terceira chacina de 2024.

O mês de março também teve a morte de três policiais militares, em Fortaleza. O último caso aconteceu com um PM que foi perseguido e baleado por criminosos, enquanto se dirigia ao quartel que trabalhava.

Todas as macrorregiões do Ceará tiveram aumento de homicídios, em março. Confira os dados:

Capital
56 mortes em março de 2023
75 mortes em março de 2024
Variação: +33,9%

Região Metropolitana de Fortaleza
72 mortes em março de 2023
88 mortes em março de 2024
Variação: +22,2%

Inferior Norte
47 mortes em março de 2023
54 mortes em março de 2024
Variação: +14,8%

Inferior Sul
52 mortes em março de 2023
61 mortes em março de 2024
Variação: +17,3%

No acumulado de 2024 (de janeiro a março), já são 819 Crimes Violentos Letais Intencionais no Ceará. Nos três primeiros meses de 2023, foram 730 casos. O que representa um aumento de 12,1%.

“FENÔMENO QUE SE REPETE”, DIZ PROFESSOR

O sociólogo, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Paiva, analisa que o aumento de homicídios, “infelizmente, é um fenômeno que se repete. Há momentos de queda e de avanço desses homicídios. É um fenômeno que não se explica apenas por uma razão. Mas, obviamente, um fator que temos observado é a movimentação dos grupos armados, que têm um impacto importante no número de homicídios no Ceará”.

“Esses grupos geram homicídios tanto pelo conflito social que existe entre eles, nas disputas territoriais pela hegemonia dos mercados ilegais, quanto em função de guerras internas, seja em razão de fragmentações ou em acertos de conta dentro do próprio grupo. Tivemos casos emblemáticos de mortes de mulheres que foram acusadas de trair o grupo e acabaram vítimas de uma ação violenta.”
LUIZ FÁBIO PAIVA – Sociólogo

Para o sociólogo, a violência “é um fenômeno complexo, que não vamos conseguir superar pelas estruturas de segurança e justiça que temos hoje, porque é um fenômeno que penetrou a sociedade. Os governos ainda precisam aprender como lidar. Há um dano social, e a maneira como se vai reparar esse tecido social, desgastado por essa situação de conflito entre grupos armados, é um desafio que precisa ser enfrentado”.

Uma fonte da Inteligência da SSPDS, que preferiu não se identificar, explica que o aumento de homicídios no Ceará era previsto, pois a disputa entre facções criminosas se intensificou, como não se via desde 2020. Os anos de 2021 e 2022 foram marcados por reduções no índice de CVLIs, enquanto 2023 terminou com o mesmo número de mortes violentas do ano anterior.

“O Estado sufocou as facções e transferiu os principais líderes presos para presídios federais (em 2020). Então, a guerra arrefeceu. Mas os grupos criminosos se reorganizaram, e surgiu uma nova facção local. Para ela se fortalecer, eles têm que espantar as ameaças. Por isso, temos visto essa disputa nos últimos meses”, analisa.

Fonte: DN

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