O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, realizado no fim de semana, apresentou aos estudantes questões com elogios ao escritor Paulo Freire, ataques ao agronegócio e críticas ao capitalismo. Trata-se da primeira prova sob o governo Lula 3. O teste é aplicado pelo Ministério da Educação (MEC) e elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, vinculado ao MEC.

A avaliação do domingo 5 exigiu conhecimentos sobre língua portuguesa, interpretação de texto e redação. A segunda etapa, que envolve matemática e ciências da natureza, vai ocorrer no dia 12.

A questão 70 (caderno branco) alerta para o “avanço da soja” na Amazônia, que seria responsável pelo desmatamento do bioma, e responsabiliza “grileiros, madeireiros e pecuaristas”. Conforme o gabarito extraoficial divulgado pelo MEC, a resposta que melhor explica o problema é a apropriação de terras devolutas, por esses agentes.

O enunciado da pergunta 89 afirma que, “no Cerrado, o conhecimento local está sendo cada vez mais subordinado à lógica do agronegócio”. Adiante, o texto diz que “de um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias, e de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”.

Por fim, essa “lógica do agro” é associada a supostas consequências negativas, como a “‘pragatização’ dos seres humanos e não humanos, a violência simbólica, a superexploração, as chuvas de veneno e a violência contra a pessoa”.

A resposta correta para a “territorialização da produção” é a letra a): “cerco aos camponeses, inviabilizando a manutenção das condições para a vida”. As demais alternativas propõem “desprezo ao assalariado”, “desrespeito aos governantes”, entre outras.

A questão 82 mostra dois trechos de artigos positivos a respeito de Freire. O segundo deles afirma que o escritor “construiu uma pedagogia da esperança. Na sua concepção, a história não é algo pronto e acabado. As estruturas de opressão e as desigualdades, apesar de serem neutralizadas, são sócio e historicamente construídas. Daí a importância de os educandos tomarem consciência da sua realidade para, assim, transformá-la”.

De acordo com o MEC, a alternativa correta para o conceito de “ética pedagógica” é a letra a), cuja resposta diz “participação sociopolítica”.

Em outra parte da prova, na pergunta 46, a diversão é tratada como o “prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio”.

“Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado para se opôr de novo em condições de enfrentá-lo”, observa o parágrafo, com base em um texto de Max Horkheimer, da Escola de Frankfurt. “Mas, ao mesmo tempo, a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão que essa pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.”

Racismo estrutural

A questão 12 do Enem 2023 cita um texto publicado na revista Carta Capital, que trata do “racismo estrutural” no Brasil. A alternativa correta é a letra d): “evidenciar argumentos que reforçam a ideia de que os negros são vítimas em potencial da violência”.

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