Cinco cardeais representantes do setor mais conservador da Igreja Católica pediram ao papa Francisco que esclareça sua posição sobre os homossexuais e a possibilidade de ordenar mulheres, em uma carta publicada nas vésperas de um Sínodo que abordará este tipo de questões.

O documento, publicado por alguns meios de comunicação como o jornal L’Espresso, é assinado pelo cardeal americano Raymond Leo Burke, o alemão Walter Brandmüller, o mexicano Juan Sandoval Íñiguez, o guineense Robert Sarah e o chinês Joseph Zen Ze-kiun.

Os cardeais transmitiram algumas dúvidas ao papa meses atrás, mas consideraram suas respostas “insuficientes”, razão pela qual enviaram-lhe novamente em 10 de julho uma carta que, segundo afirmam, não foi respondida.

– Diante de diversas declarações de alguns altos prelados inerentes à celebração do próximo Sínodo de Bispos, obviamente contrárias à constante doutrina e disciplina da Igreja, que geraram grande confusão e queda no erro entre os fiéis e outras pessoas de de boa vontade, expressamos nossa profunda preocupação ao Romano Pontífice – afirmaram os cardeais no documento.

A primeira dúvida levantada é se “é possível que a Igreja ensine hoje doutrinas contrárias às que ensinava antes em questões de fé e moral”, seguindo teólogos e pastores que acreditam que é preciso adaptar-se às “mudanças culturais e antropológicas do nosso tempo.”

Por outro lado, censuraram Francisco por sua tolerância para com os casais homossexuais.

– Preocupa-nos que a bênção dos casais homossexuais possa criar confusão, não só por fazê-los parecer análogos ao matrimônio, mas porque os atos homossexuais seriam apresentados como um bem.

E questionam:

– É possível que em algumas circunstâncias um pastor possa abençoar as uniões homossexuais, dando assim a entender que o comportamento homossexual como tal não seria contrário à lei de Deus e ao caminho das pessoas em direção a Deus?

Da mesma forma, eles frisam mais uma vez “preocupação” porque Francisco disse que a questão da ordenação sacerdotal das mulheres pode ser “aprofundada”, embora apoie a carta apostólica Ordenatio Sacerdotalis com a qual João Paulo II fechou essa possibilidade em 1994.

– Poderá a Igreja no futuro ter o poder de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, contrariando que a reserva exclusiva deste sacramento aos batizados do sexo masculino pertence à própria substância do Sacramento, que a Igreja não pode mudar? – perguntam.

As perguntas destes cardeais, entre os quais há alguns notórios críticos de Francisco como Burke ou Salah, são divulgadas dois dias antes do início do Sínodo dos Bispos, que debaterá, entre outras coisas, como acolher a comunidade LGBT e abrir mais espaços às mulheres.

Não só os prelados participarão nesta importante assembleia, mas o papa, por meio de uma decisão revolucionária, permitirá que mulheres e leigos votem no documento final.

No último sábado (30), Francisco, sempre questionado pelos setores mais conservadores, expressou o desejo de que o Sínodo fosse aprovado “sem murmúrios, ideologias e polarizações”.

Não é a primeira vez que Francisco recebe uma carta com “dúvidas” de alguns cardeais e sua exortação apostólica sobre a família “Amoris Laetitia” (2016) provocou a reação negativa de Burke, Brandmüller, além do italiano Carlo Caffarra e do alemão Joachim Meisner, os dois últimos falecidos um ano depois.

Além disso, cerca de 60 historiadores, teólogos e padres acusaram o papa de publicar sete “heresias” nessa exortação.

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